Conheci uma família há duas semanas atrás. Pai, mãe e filho, estavam aproveitando o feriado assim como eu, se distraindo do cenário repetitivo deste período que estamos vivendo.
Me contava a mãe do quanto estava sendo difícil para o filho se adaptar a rotina de aulas online. O adolescente não estava conseguindo manter a atenção necessária para cumprir as atividades propostas pela escola. Nem mesmo as aulas de educação física, ministradas pela web, o rapaz manifestara interesse.
Ela disse também, que observara o mesmo tipo de comportamento entre os colegas do filho: “os bons alunos estão tendo um desempenho abaixo do esperado e aqueles que costumam ter notas baixas estão tendo uma resposta acima do imaginado” – ela mencionou.
Realmente a situação está bastante estranha pra todos nós. Aquilo que costumávamos fazer com bastante facilidade, como a comunicação entre nós, passou a ser intermediada por diversos aparelhos, atrapalhada por ruídos e interrupções, exigindo uma atenção ininterrupta e deixando nossos olhos secos por não piscarem direito diante de tantas telas.
No entanto, mesmo diante de uma situação menos enclausurada, o jovem não conseguiu interagir de maneira mais descontraída. Evitava olhares e respondia com monossílabos. Parecia alguém que saía pela primeira vez de dentro de uma caverna escura e que por um bom período tem dificuldade de se adaptar a luz intensa do lado de fora. Anda lentamente, não enxerga bem e não consegue captar com clareza o que está acontecendo ao seu redor.
Para os adolescente, a situação de isolamento traz alguns desajustes específicos. Nesta fase o indivíduo já tem uma compreensão da própria cultura e dos valores familiares, portanto, há uma base. Porém, o jovem, com o objetivo de imprimir a sua marca particular e diferenciar-se de seus pais, busca não repetir o modelo.
É neste aspecto que o prejuízo pelo afastamento dos demais colegas se faz presente: não é possível usar os amigos e colegas como parâmetro para as suas decisões. O mundo virtual não consegue dar conta de substituir o olhar de descrença, de apoio ou de repúdio do grupo. Ou seja, todo e qualquer feedback que o âmbito escolar, no qual ele estava inserido, costumava lhe dar, não existe mais.
Para os pequenos este feedback ainda é muito pautado por aquilo que os familiares estabelecem e no mundo adulto isto já está mais estabelecido, Mas no caso dos jovens, o “eu” ainda está em formação. Há uma base, mas ele precisa do apoio dos pares para elaborar melhor o caminho a ser seguido.
Talvez isto justifique o porquê do jovem em questão não parecer assim tão empolgado pelo fato de estar fora de seu ambiente limitado. A saída, ainda que positiva, não fora capaz de reproduzir o mesmo efeito que as interações com os amigos costumava atingir. Não só com eles, mas com a microssociedade que a escola estabelece, com seus respectivos valores e regras, que são igualmente questionados ou incorporados pelos colegas do grupo.
Todos estamos sendo desafiados pelo momento atual. Diante das questões pertinentes àquilo que se é possível ensinar ou aprender no universo online, acho relevante pensar nas adaptações necessárias, não só do ponto de vista acadêmico, mas também do ponto de vista psicossocial destes jovens. Precisamos diferenciar o mau humor e enfrentamento típicos desta faixa etária, da real necessidade de atenção e suporte por não estarem conseguindo dar conta da situação. Estejamos atentos!