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Winnicott, psicanalista inglês, afirmava que para um bom desenvolvimento infantil a criança precisava de uma mãe (ou substituto/a) “suficientemente boa”. Sempre adorei este termo, mas afinal o que ele queria dizer?

O autor afirma que é importante a criança ter alguém que atenda suas necessidades de contenção, ajudando-a na adaptação ao mundo e atendendo suas necessidades básicas. Segundo ele, isso resultaria em adultos mais saudáveis tanto do ponto de vista psíquico, como físico. Por outro lado, mães muito ansiosas que antecipam todo e qualquer desejo de seus bebês ou mães pouco sensíveis as necessidades dos mesmos seriam responsáveis por adultos mais ansiosos e inseguros.

Deixando de lado a questão da responsabilidade materna, que desde Freud tem sido enaltecida, o conceito de Winnicott diz respeito à importância do bom, do que é suficiente, abrindo espaço para o erro, a melhora e a mudança.

Ao contrário do que podemos imaginar, a preocupação com uma performance irrepreensível com a observação de todos os detalhes e controle da situação, pode não só ser exaustivo como poderia nos fazer desistir do intento.

Conheço a história de uma usina de cana-de-açúcar que contratou uma consultoria para o aumento da produção da empresa. Na apresentação do relatório final foi uma surpresa para todos que a solução encontrada era a redução de 30% do total de caminhões de entrega de cana. Ficou constatado que o excesso de caminhões provocava um grande congestionamento e assim uma maior dificuldade de descarregamento e manobra dos mesmos. Ou seja, atrasava e atrapalhava a produção.

Poucos dias atrás pedi a ajuda de uma pessoa para limpar um apartamento. No desejo de ajudar e com a ideia de manter o trabalho, a profissional se esmerou para fazer a melhor limpeza possível: munida de uma mangueira jogou água por todos os cantos da sacada e encheu de produtos de limpeza o piso. Sob a perspectiva dela aquilo era a perfeição. No entanto, na perspectiva do gasto de água e no risco de curto-circuito das condensadoras que ficam no local, o bom e básico pano úmido teria sido a melhor solução.

Se contentar com o bom, abre espaço para o aprendizado. Não ter como foco a perfeição e sim a realização do trabalho, pode ser um bom começo. Os exemplos mencionados acima mostram que estar aberto para a tarefa e ir respondendo conforme a necessidade nos coloca em uma posição mais flexível, pois não há a expectativa de perfeição.

A vida traz desafios, o dia a dia traz desafios. Quando penso nisso, não me surpreende o fato de estarmos tão ansiosos e estressados. Colocar o foco em fazer mais e melhor o tempo todo, pensando em todos os detalhes do processo, é exaustivo e em algumas situações contraproducentes. Somos tomados pelo excesso de decisões e informações, a mente fica impossibilitada de achar um foco ou ainda pior: desistir do projeto.

Há um ditado que diz: “o feito é melhor que o perfeito”. E talvez esteja na hora de questionar se de fato o perfeito existe. Se a perfeição for vista como meta, com a plena consciência de que nunca será alcançada, pode ser útil. No entanto, se for pensada como algo factível, a chance de que isto nos leve à nos desapontar ou a desistir é enorme. O bom é ótimo e vai ficar ainda “mais ótimo” na próxima tentativa!