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Enquanto alguns de nós tentam se distrair com campeonatos esportivos, ocorre simultaneamente uma competição bastante acirrada e que talvez esteja passando desapercebida por conta das batalhas longas e cotidianas que são as disputas entre pais e filhos por suas necessidades. No confronto: Homeschooling X Home office, quem hoje terminará sua jornada com suas mentes tranquilas em relação ao desempenho ao longo dia?

Cabe aqui aclarar que me refiro ao termo homeschooling de forma adaptada. Esta expressão faz referência ao estudo escolar fora da escola, o que no Brasil nem é regulamentado. No entanto, devido ao fato das escolas não estarem funcionando regularmente, esse tem sido na prática o modo de educação adotado pelas famílias.

Diferentemente de uma disputa esportiva em que claramente temos a preferência por um dos lados, na disputa estudo dos filhos X trabalho dos pais não há satisfação quando qualquer um dos lados perde.

Claro, nossos filhos não são nossos oponentes, temos grande interesse em que sejam bem-sucedidos em suas tarefas, mas, por outro lado, o trabalho remoto dos pais também é prioritário. Portanto, apesar do ar competitivo, a única forma de dar certo é se adotarmos o modelo colaborativo.

Ninguém dá conta de tudo

A princípio, tudo é uma questão de organização. Na maioria dos dias iniciamos com um plano teórico bem estabelecido, com horários e metas definidas, até que a realidade se apresente e leve ladeira abaixo sonhos e projetos, trazendo caos e tensões, e principalmente a sensação de descontentamento ao final do dia.

Esta insatisfação, é fato, pode até fomentar novas estratégias para o dia seguinte, ou por outro lado, aumentar a frustração e a sensação de fracasso de ambas as partes.

O cenário nos preocupa pelo questionamento se de fato as crianças estão ou não aprendendo algo neste tipo de modelo e se este esforço tem sido ou não em vão. Porém, sugiro que a gente amplie o olhar para entender que existem grandes aprendizagens neste processo.

Copo meio cheio

A possibilidade de acompanhar seus filhos de perto, observar como ele se comporta diante dos desafios que são apresentados, se ele acata, se ele explode, se ele “desliga”, se ele gosta, se ele aprende, nos permite uma visão nunca antes imaginada, uma espécie de “BBB” escolar. A realização de um sonho que muitos pais ambicionavam há pouco mais de um ano.

Claro que neste sonho não imaginávamos as dificuldades como, por exemplo, nossos filhos sofrendo bullying, ou pior, fazendo bullying com alguém. Imaginávamos apenas os aspectos positivos: eles sendo gentis com os colegas e dando respostas inteligentes aos professores. A realidade em geral costuma ser um pouco mais dura do que nossas imaginações.

Mas deixando de lado nossos sonhos, proponho que encaremos a realidade e que de forma criativa (e quão criativos teremos que ser!), busquemos soluções práticas.

Algumas famílias que adotaram esta visão e comportamento, tem colhido resultados positivos neste processo, o que não significa, de forma alguma, que qualquer uma delas tenha a menor intenção de manter o homescholling dos filhos quando isto tudo voltar a algo minimamente normal.

Encontre novos caminhos

Se estamos pensando que o trabalho é cooperativo, é importante ouvir dos filhos também aquilo que para eles é necessário. Se percebemos que há alguma atividade ou aula em que nossos filhos têm mais dificuldade, não seria importante estarmos mais disponíveis neste momento? Até para entender o que pode estar atrapalhando.

Pode ser uma aula de matemática ou de artes, o fato de estarmos mais presentes em um momento mais desafiador para eles pode ser o suficiente para que eles deem conta do recado. Sabe aquele olhar perdido que no modo presencial os professores conseguiam captar com facilidade? Neste momento, não está sendo possível.

Por outro lado, como fazer nossos filhos entenderem que nós também temos nossas atividades que não podem ser interrompidas? Cabe aqui adotar um código que possa ser visto e respeitado. Que tal uma sinalização como os sinais de trânsito? Vermelho: estou em reunião importante, só interrompa em caso de extrema necessidade. Amarelo: estou ocupada, mas se precisar falar algo importante e rápido eu consigo te atender. Verde: estou trabalhando, mas posso ser interrompida.

Como todos os aprendizados, no começo há muitos erros e cabeçadas. Projetos que na teoria seriam ótimos, mas na prática não resolveram a questão. No entanto, se encaramos nosso trabalho como sendo de educar nossos filhos para darem conta das “mudanças climáticas” do mundo e, simultaneamente, buscar melhorar nossa condição de educadores da próxima geração ensinado a cooperação, o trabalho e o respeito ao outro, colheremos os resultados e ganharemos todos.