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Quem entra num processo psicoterapêutico já sabe: o passado vai ser visitado. Nem sempre estas visitas são tristes ou traumáticas. Em alguns casos podem surgir uma saudade, algumas alegrias ou ainda um desejo enorme de repetir algumas das situações vividas. Por outro lado, é comum que estes retornos tragam sensações ambíguas ou até controversas.

Há pacientes que, ao me contar algo muito doloroso, conclui o relato dizendo: “mas já passou” ou “eu já esqueci”. No entanto, esta volta sempre permite que haja uma atualização “daquele evento” para o momento presente, uma ressignificação daquilo que já foi vivido.

Esquecer algo que passamos, em geral, significa que aquilo não produziu nenhuma marca específica. As vezes são apenas lembranças daquilo que foi vivenciado e que com o passar dos anos vão sendo absorvidas, numa espécie de acomodação interna necessária para que se abra espaço para aquilo que virá ou para aquilo que de fato não será esquecido.

Um passado que constrói o presente?

As memórias que persistem são significativas. São marcas ou marcos históricos que imprimem aquilo que somos, uma espécie de tatuagem em nosso modo de ser, pautando nossas vidas. Se estas memórias vivas são alegres ou positivas, mesmo fruto de situações difíceis, caminhamos confiantes e de cabeça erguida em direção aquilo que almejamos.

No entanto, lembranças que são evitadas, que trazem mal-estar, truncadas ou repetitivas, podem indicar que pairam sobre nossas cabeças um céu de tempestade que irá desabar a qualquer momento sem qualquer pré-aviso. Isto pode gerar muito desconforto e apreensão, ou ainda um desejo intenso de evitar tudo aquilo que possa remeter a tais situações. O caminhar neste caso pode parecer como uma fuga e não com uma escolha.

O passado já está no passado (é verdade!), mas poder olhar com clareza para o que foi vivido é um direito nosso, faz parte da nossa história e compõe quem nós somos no presente. É ter acesso ao quebra-cabeça completo mesmo que a peça difícil de encaixar seja simplesmente uma parte do cenário de fundo.

Reorganizar estas lembranças, acomodá-las melhor internamente, transformá-las em algo útil é possível. Independente do destino escolhido, o importante é que se possa retomar a caminhada em direção àquilo que de fato faça sentido e nos traga satisfação.

Veja mais sobre autoconhecimento: “Sobre compartilhar alegrias e tristezas” e “Dividir para multiplicar“.