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Recentemente tive a oportunidade de ver caminhando por um parque uma menina por volta de seus 8 anos de idade acompanhada por 3 mulheres. Não consigo dizer com segurança o grau de parentesco da menina com estas mulheres, podiam ser mãe, avó e tia talvez. Era interessante observar como andavam depressa e a menina ia ficando, cada vez mais, um pouco mais para trás, explorando o terreno, subindo nos bancos, observando o entorno, algo que o grupo de mulheres não fazia.

A cada tanto elas a incentivam a acompanhar o passo do grupo e no momento em passei por elas pude escutar um pouco o que falavam. Uma disse: “não fique pra trás é perigoso”, a outra afirmou: “cuidado, alguém pode te roubar”, finalmente disseram: “você vai se machucar!”. Depois disso não as ouvi mais.

Isto me fez pensar neste lugar que coloca o adulto como o cuidador e educador de uma criança, o quanto estas observações e palavras simbolizavam grande preocupação, medo e desconfiança, para uma situação que parecia apenas um incomodo por terem que esperar a menina. Seria o medo uma forma eficaz de educação?

Educar pelo medo?

O medo pauta nossas vidas e é utilizado como uma ótima forma de controle social, não há dúvida. Mas neste momento foco na questão mais específica sobre o seu uso na educação dos filhos.

Para quem é mais velho, deve ter ouvido sobre o “homem do saco” ou o “bicho papão”, que caíram em desuso justamente pelo fato de partirem de uma mentira que colocava medo nas crianças, como uma forma de controlá-las. Nos tempos atuais cairiam por terra no primeiro contado desta criança com o Google.

No entanto, a essência do modelo se mantêm, diante da dificuldade de um pai (ou mãe) de educar seu filho, apontar uma situação de perigo, com o objetivo de estimular o medo, acaba sendo o melhor meio de se reestabelecer o controle da situação.

Como você imagina que seja o adulto que cresce aprendendo pelo medo?

Sei que somos os responsáveis por introduzir as regras e valores em nossas crianças e informar sobre os perigos do mundo faz parte desta prerrogativa, mas acredito que haja um uso indiscriminado deste artificio e que no fundo será percebido bem mais pra frente quando este individuo não for mais criança e estiver dando os primeiros passos em direção a sua vida adulta.

Se por um lado ele concluir que este medo excessivo não existe, e que mentiram pra ele este tempo todo, possivelmente ele irá querer testar todas as regras para verificar a veracidade das mesmas. Isto pode ser bem perigoso.
Por outro lado, se este jovem concluir que o mundo é um lugar extremamente desafiador e ameaçador, poderá achar que não tem condições de enfrentá-lo e seguir optando por evitar fazer escolhas de forma autônoma e independente, sentindo-se incapaz para dar conta de sua existência.

Educar uma criança é um trabalho. Exige atenção e dedicação, e mais ainda, questionar algumas estratégias obsoletas utilizadas por nossos pais ou nossos pares. Mas, se desde o início ficar claro para nós que a meta é focar na “independização” dos pequenos, levando em conta as especificidades de cada um, já será possível vislumbrar um belo caminhar pela frente, com segurança e ainda quem sabe, alguém que se sinta seguro para pedir ajuda diante de algo mais desafiador durante o processo.